segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


Rios: caminhos de riqueza amazônica




Realidade rara no país – a exemplo dos outros Estados amazônicos que possuem semelhante aspecto –, é difícil para as pessoas de fora entenderem a relação do amazônida com as dimensões de água doce. Louvado foi Paulo André Barata quando compôs “Este rio é a minha rua”, pois talvez consiga explicar o que significa para o paraense o rio que corta o seu horizonte, sempre tão perto do cotidiano de toda a população local. Além da relação social e cultural com os rios, ainda existe a econômica, cheia de benefícios e vantagens ao Pará.

Tanto é que o Pará virou líder brasileiro na produção de pescado. Estudos da Secretaria Estadual de Pesca apontaram para cerca de 200 mil toneladas do produto só em 2009. Tanta produção emprega diretamente três mil funcionários, além de pelo menos 145 mil pescadores artesanais. Belém, Vigia, Santarém Bragança e Abaetetuba se destacam neste mercado. Além disso, através dos rios, o Pará consegue ter mais uma opção para transportar mercadorias.

“O Estado basicamente depende dos rios para a sua economia. Hoje, temos rios economicamente viáveis. No transporte pelos rios, é possível gastar menos energia e dinheiro que via estradas, além de poder levar mercadorias de grande porte e, assim, fazer diminuir o número de carretas nas estradas, o que diminui a quantidade de gases poluentes jogados ao ar”, revelou o especialista em rios amazônicos e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Hito Braga.

Além da questão econômica, outros fatores dependeram diretamente dos rios. “O povo paraense tem uma ligação muito forte com os rios. Tudo gira em torno deles. Um exemplo foram as próprias construções das cidades. Historicamente, a nossa ocupação foi feita em torno dos rios, as grandes cidades foram criadas de frente a eles”, ressaltou. O paraense tem intimidade com essa imensidão de água doce. O músico Renato Rosas é um exemplo disso. Ao longo da vida, sempre se deparou com o rio Guamá. Seja no lugar onde nasceu e viveu, seja na universidade – fez Biomedicina na UFPA – ou na hora do esporte, já que pratica remo.

“É uma relação de harmonia, graças à minha infância, eu nasci e cresci na Vila Martins, Cidade Velha, onde o fim da vila é beira de rio. Quando criança, nós da vila brincávamos de pescar, pulávamos dos barquinhos atracados lá, era um contato magnífico e constante, onde tudo era observado de perto. Quando adolescente, eu não tinha noção, apenas praticava remo devido a uma cultura familiar. Hoje é de praxe ver Belém de dentro de um barquinho às seis horas da manhã, em meio a todo contexto natural, visual e esportivo que se concretiza”, afirmou Renato Rosas.

Outro exemplo de rio relevante é o Tapajós, que nasce no Estado de Mato Grosso, banha parte do Pará e deságua no rio Amazonas, ainda no Estado paraense. Sua importância para a navegação é imensa. É sobre ele que navegam regularmente embarcações de grande, médio e pequeno porte. É ainda pelo Tapajós que milhares de pessoas entram nos municípios localizados às margens, sem contar o abastecimento de mercadorias enviadas de uma cidade a outra.

O movimento é tão intenso, que o empresário Rildo Dolzanes sentiu a necessidade de criar um restaurante que flutua. É sobre o rio Tapajós, em frente a cidade, que consegue empregar, de carteira assinada, três funcionários e gerar outros empregos indiretos. Atende diariamente de 400 a 500 pessoas, e já pensa em expandir o negócio. Rildo começou servindo lanche em tímido espaço no tablado, em frente ao Mercadão 2000. Permaneceu lá por 15 anos. Hoje, os clientes ocupam um espaço maior, sobre uma estrutura que, há 10 anos, acompanha o nível do rio, mas é no tempo de cheia que a procura aumenta.

“As pessoas costumam não dar valor ao ribeirinho, ao pessoal do interior, mas são eles que abastecem a economia de Santarém. Tudo graças ao movimento que existe no rio”, acredita. É em frente à Santarém, Oeste do Pará, que o rio Tapajós apresenta um dos mais belos fenômenos: o encontro das águas. Tapajós e Amazonas se encontram sem possibilidade de mistura, e atraem centenas de turistas, que buscam explicação para o espetáculo.

Uma questão bastante debatida atualmente pelo mundo afora é sobre o potencial energético dos rios paraenses, como o Xingu, local de execução do projeto da hidrelétrica de Belo Monte. Opiniões à parte, de fato, já é possível ressaltar o grande papel das águas paraenses para um possível “boom” da economia brasileira.



Por que se orgulhar?


Os rios paraenses possuem grande relevância para a economia brasileira, a exemplo do potencial para a pesca e para a geração de energia. Além disso, o povo paraense tem, através dos seus rios, um diferencial social, cultural e histórico.

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