Rios:
caminhos de riqueza amazônica
Realidade
rara no país – a exemplo dos outros Estados amazônicos que possuem semelhante
aspecto –, é difícil para as pessoas de fora entenderem a relação do amazônida
com as dimensões de água doce. Louvado foi Paulo André Barata quando compôs
“Este rio é a minha rua”, pois talvez consiga explicar o que significa para o
paraense o rio que corta o seu horizonte, sempre tão perto do cotidiano de toda
a população local. Além da relação social e cultural com os rios, ainda existe
a econômica, cheia de benefícios e vantagens ao Pará.
Tanto é
que o Pará virou líder brasileiro na produção de pescado. Estudos da Secretaria
Estadual de Pesca apontaram para cerca de 200 mil toneladas do produto só em
2009. Tanta produção emprega diretamente três mil funcionários, além de pelo
menos 145 mil pescadores artesanais. Belém, Vigia, Santarém Bragança e
Abaetetuba se destacam neste mercado. Além disso, através dos rios, o Pará
consegue ter mais uma opção para transportar mercadorias.
“O
Estado basicamente depende dos rios para a sua economia. Hoje, temos rios
economicamente viáveis. No transporte pelos rios, é possível gastar menos
energia e dinheiro que via estradas, além de poder levar mercadorias de grande
porte e, assim, fazer diminuir o número de carretas nas estradas, o que diminui
a quantidade de gases poluentes jogados ao ar”, revelou o especialista em rios
amazônicos e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Hito Braga.
Além da
questão econômica, outros fatores dependeram diretamente dos rios. “O povo
paraense tem uma ligação muito forte com os rios. Tudo gira em torno deles. Um
exemplo foram as próprias construções das cidades. Historicamente, a nossa
ocupação foi feita em torno dos rios, as grandes cidades foram criadas de
frente a eles”, ressaltou. O paraense tem intimidade com essa imensidão de água
doce. O músico Renato Rosas é um exemplo disso. Ao longo da vida, sempre se
deparou com o rio Guamá. Seja no lugar onde nasceu e viveu, seja na
universidade – fez Biomedicina na UFPA – ou na hora do esporte, já que pratica
remo.
“É uma
relação de harmonia, graças à minha infância, eu nasci e cresci na Vila
Martins, Cidade Velha, onde o fim da vila é beira de rio. Quando criança, nós
da vila brincávamos de pescar, pulávamos dos barquinhos atracados lá, era um
contato magnífico e constante, onde tudo era observado de perto. Quando
adolescente, eu não tinha noção, apenas praticava remo devido a uma cultura
familiar. Hoje é de praxe ver Belém de dentro de um barquinho às seis horas da
manhã, em meio a todo contexto natural, visual e esportivo que se concretiza”,
afirmou Renato Rosas.
Outro
exemplo de rio relevante é o Tapajós, que nasce no Estado de Mato Grosso, banha
parte do Pará e deságua no rio Amazonas, ainda no Estado paraense. Sua importância
para a navegação é imensa. É sobre ele que navegam regularmente embarcações de
grande, médio e pequeno porte. É ainda pelo Tapajós que milhares de pessoas
entram nos municípios localizados às margens, sem contar o abastecimento de
mercadorias enviadas de uma cidade a outra.
O
movimento é tão intenso, que o empresário Rildo Dolzanes sentiu a necessidade
de criar um restaurante que flutua. É sobre o rio Tapajós, em frente a cidade,
que consegue empregar, de carteira assinada, três funcionários e gerar outros
empregos indiretos. Atende diariamente de 400 a 500 pessoas, e já pensa em
expandir o negócio. Rildo começou servindo lanche em tímido espaço no tablado,
em frente ao Mercadão 2000. Permaneceu lá por 15 anos. Hoje, os clientes ocupam
um espaço maior, sobre uma estrutura que, há 10 anos, acompanha o nível do rio,
mas é no tempo de cheia que a procura aumenta.
“As
pessoas costumam não dar valor ao ribeirinho, ao pessoal do interior, mas são
eles que abastecem a economia de Santarém. Tudo graças ao movimento que existe
no rio”, acredita. É em frente à Santarém, Oeste do Pará, que o rio Tapajós
apresenta um dos mais belos fenômenos: o encontro das águas. Tapajós e Amazonas
se encontram sem possibilidade de mistura, e atraem centenas de turistas, que
buscam explicação para o espetáculo.
Uma
questão bastante debatida atualmente pelo mundo afora é sobre o potencial
energético dos rios paraenses, como o Xingu, local de execução do projeto da
hidrelétrica de Belo Monte. Opiniões à parte, de fato, já é possível ressaltar
o grande papel das águas paraenses para um possível “boom” da economia
brasileira.
Por que
se orgulhar?
Os rios
paraenses possuem grande relevância para a economia brasileira, a exemplo do
potencial para a pesca e para a geração de energia. Além disso, o povo paraense
tem, através dos seus rios, um diferencial social, cultural e histórico.
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